quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O Ensaio Segundo Meirelles


Está para chegar a Portugal o filme Blindness, do brasileiro Fernando Meirelles. Este realizador dos "filmes-catástrofe" do novo século, promete surpreender pela concepção realista de que resultou o desafio de dirigir actores que não representam com os olhos nem, por consequência, têm a mesma forma de interagir entre si. Baseado no colossal (adjectivação minha) livro de José Saramago Ensaio Sobre a Cegueira, não colhe grande consenso, facto que se deve mais ao seu conteúdo do que á sua construção. O The Guardian fala de "pesadelo apocalíptico", descrevendo os seus conteúdos violentadores. O La Nación refere a frieza com que foi recebido, enquanto outros referem "um choque azedo e inesperado" (The Times); "deprimente" abertura do Festival de Cannes. A verdade, meus amigos, é que se trata de uma fidelíssima adaptação à tela de uma obra difícil de um escritor já de si difícil, na proa da literatura contemporânea mundial. Saramago afirmou estar tão contente em ter visionado o filme, como quando acabou de escrever o livro; apesar da violência que está implícita na sua leitura e também na escrita. Diz Saramago: "Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultâneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso".
Veremos o que nos reserva a recepção portuguesa. Entretanto, recomendo vivamente a leitura de Ensaio Sobre a Cegueira. Para os que não vão lêr (pelo menos até lá) fica o "cartão de visita" do frontispício: "Se podes olhar, vê. Se podes vêr, repara".

Sem comentários: