quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Oliveira, o Centeneasta

O nosso decano do Cinema Manoel de Oiveira faz hoje a bonita idade de cem anos. Esta carta vem à mesa para celebrar a efeméride, procurando estabelecer uma cinematografia tão completa quanto possível. Quanto ao resto, parece-me que é ainda muito cedo para comentar. A História se encarregará de colocar Mestre Oliveira no seu devido lugar (seja ele qual for) pois, acreditem, muitas vão ser ainda as considerações tecidas sobre a sua obra e muitas as descobertas. Mas essas são coisas que ao futuro pertencem. Afinal de contas, ninguém disse e nem poderia dizer (e contudo parece ser um sintoma) que estes cem anos de vida são um ponto de chegada…
Eis os filmes. Excepto os casos indicados, todos são obras de ficção e de sua autoria.

Fátima Milagrosa, Rino Lupo, 1928 (actor)
Douro, Faina Fluvial, 1931 (Documentário)
Hulha Branca, 1932 (Documentário)
Estátuas de Lisboa, 1932 (Documentário inacabado)
A Canção de Lisboa, Cottinelli Telmo, 1933 (actor)
Miramar, Praia das Rosas, 1938 (Documentário desaparecido)
Portugal Já Faz Automóveis, 1938 (Documentário)
Famalicão, 1940 (Documentário)
Aniki Bóbó, 1942
Exposição Heráldica do Trabalho, Perdigão Queiroga, 1956 (Documentário, fotografia)
O Pintor e a Cidade, 1956 (Documentário)
Imagens de Portugal 105, António Lopes Ribeiro (Actualidades, fotografia)
A Rainha Isabel II em Portugal, António Lopes Ribeiro, 1957 (Documentário, fotografia)
O Coração, 1958 (Inacabado)
O Pão, 1959 (Documentário)
Acto da Primavera, 1962
A Caça, 1963
Vilaverdinho, 1964 (Documentário)
As Pinturas do Meu Irmão Júlio, 1965 (Documentário)
A Propósito da Inauguração duma Estátua (Porto, 1100 Anos), Lopes Fernandes, Artur Moura e A. Baganha, 1970 (Documentário, supervisão)
André, a Cara e a Coragem, Xavier de Oliveira, 1971 (montagem)
O Passado e o Presente, 1971
Sever do Vouga Uma Experiência, Paulo Rocha, 1971 (supervisão)
Benilde ou a Virgem Mãe, 1974
Deliciosas Traições do Amor, Domingos Oliveira, Tereza Trautman, Phudias Barbosa, 1975 (montagem)
Amor de Perdição, 1978
Conversa Acabada, João Botelho, 1981 (actor)
Francisca, 1981
Visita ou Memórias e Confissões, 1982 (só será exibido após a sua morte)
Lisboa Cultural, 1983 (Documentário)
Nice – À Propos de Jean Vigo, 1983 (Documentário)
Le Soulier de Satin, 1985
Simpósio Internacional de Escultura, 1985 (Documentário co-realizado com Manuel Casimiro)
Mon Cas, 1986
A Propósito da Bandeira Nacional, 1987 (Documentário)
Os Canibais, 1988
“Non” ou a Vã Glória de Mandar, 1990
A Divina Comédia, 1991
O Dia do Desespero, 1992
Oliveira, o Arquitecto, Paulo Rocha, 1993 (Documentário, entrevistado)
Vale Abraão, 1993
A Caixa, 1994
Viagem a Lisboa, Wim Wenders, 1994 (actor, participação especial)
O Convento, 1995
En Une Poignée de Mains Amies, 1996 (Documentário co-realizado com Jean Rouch)
Party, 1996
Viagem ao Princípio do Mundo, 1997
Inquietude, 1998
A Carta, 1999
Palavra e Utopia, 2000
Vou Para Casa, 2001
Porto da Minha Infância, 2001 (Documentário)
O Princípio da Incerteza, 2002
Momento, 2002 (Clip musical)
Um Filme Falado, 2003
O Quinto Império Ontem Como Hoje, 2004
Espelho Mágico, 2005
Do Visível ao Invisível, 2005
Belle Toujours, 2006
O Improvável Não é Impossível, 2006
Cristóvão Colombo – O Enigma, 2007
Rencontre Unique, 2007 (Segmento de Chacun Son Cinéma)
O Poeta Doido, o Vitral e a Santa Morta, 1965/2008 (Documentário)
A Vida e a Morte – Romance de Vila do Conde, 1965/2008 (Documentário)
Singularidades de Uma Rapariga Loura (em rodagem)
O Estranho Caso de Angélica (em preparação)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O Fado Vai ao Cinema

Amália, O Filme, estreou em grande na última 5ª feira, com um total de 66 cópias de distribuição nas salas portuguesas. Envolto em polémica, os responsáveis pela produção alegam não ser um "biopic", mas sim uma obra inspirada na vida de, e de homenagem à grande fadista. A família de Amália, que tentou impedir que o filme chegasse a bom porto, fez total boicote a tudo o que lhe diga respeito, justamente por defender que a obra falta ao respeito à vida e à memória de Amália Rodrigues.
Vale talvez a pena, recordar algumas obras da carreira cinematográfica da artista. Entrou de forma heróica na 7ª Arte com o filme Capas Negras, de Armando de Miranda, 1947. O Fado é o protagonista maior, "secundado" por Amália, claro, e o acompanhante António Vilar, o grande galã da época do luso cinema. O resultado foi o primeiro grande êxito de bilheteira até então de um filme português. Também digno de nota e do mesmo ano, realce para Fado, História d'Uma Cantadeira, de Perdigão Queiroga, porventura bem mais conhecido do que o primeiro graças à televisão e ao mercado videográfico. A fadista sucumbe aos luxos provenientes do dinheiro das "avenidas" que o talento lhe proporciona, deixando para trás o amor com o guitarrista (Virgílio Teixeira), a mãe e a vida que conhecera no bairro popular. Depois, claro, vem a redenção e tudo volta ao seu lugar, muito pela mão do Fado.
Em Vendaval Maravilhoso, de Leitão de Barros, 1949, interpreta a actriz Eugénia Infante da Câmara, em pleno romance com o poeta brasileiro Augusto de Castro Alves. Como pano de fundo, a libertação dos escravos no Brasil. No ano de 1955 Ewan Lloyd filma o documentário April in Portugal e Amália, cabeça de cartaz e espécie de monitora de turismo, interpreta "Canção do Mar".
Merece também realce, o filme Sangue Toureiro, de Augusto Fraga, 1958. O romance é desta vez entre Amália (Maria da Graça) e Diamantino Viseu (Eduardo Vinhais), toureiro a sério e no filme, naquela que foi a primeira produção portuguesa de uma longa-metragem colorida. Uma última referência para Jorge Brum do Canto que a dirigiu em Fado Corrido, 1964, onde a fadista Maria do Amparo é resistente aos amores de D. Luis, interpretado pelo realizador.Eis portanto uma espécie de Top 5 nacional acompanhado por um documentário britânico, entre muitas participações em longas e curtas, ficções e documentários. Mas o que sempre foi significativo... bem, foi a voz ou o nome da voz. Veremos o que diz o público do filme de Carlos Coelho da Silva. Inteligentemente, a dita Banda Sonora foi editada em simultâneo...

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Byblografia

A notícia é de ontem de manhã, pelo menos. Desiludam-se aqueles que acham que a crise é coisa de somenos, ela veio para ficar. Que o digam os responsáveis pela livraria Byblos em Lisboa, a maior do país, que ontem já não tiveram capacidade para abrir as portas.
Nesta carta de pesar que vem à mesa, assinala-se o fim de um espaço de cultura que acaba por ir ao tapete sem mais horizontes que não os da hipotética salvação por outro grupo que lhe restitua alguma força. Da minha parte, lamento o desaparecimento de uma excelente oferta livreira, onde o cliente podia saborear um café calmamente sentado enquanto folheava avidamente uma qualquer obra que ora sentia na sua posse. Onde um jornal podia ser acompanhado por uma sopa (que podia não ser de letras), ou por uma refeição tão saudável como a leitura de um best-seller.
Isto na altura em que toda a gente começa a ser invadida pelo espírito (fúria) natalício, pode ser um revés. Planeava eu fazer por ali parte das chamadas Compras (assim mesmo, com letra grande) de Natal. Pois, infelizmente há por aí muito quem pense que compras (com letra pequena) de Natal é encher até cima meia-dúzia de carrinhos de supermercado, todos em corrida até às caixas de pagamento, encalhando nos “vizinhos” do lado e chocando de frente com quem persegue furiosamente mais um pacote de caju; comprar 50 peças de roupa nova e gastar o resto a mimar os estimados petizes com a Play Station Portable e outras traquitanas que acabam, cedo ou tarde, esquecidas debaixo de um sofá.
Fica o conselho: Ofereça livros, mesmo que não sejam daqueles “chatos”, só com letras do princípio ao fim… Bom fim-de-semana que as Festas, apesar de tudo, ainda vêm longe.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Calvin & Hobbes


Terça-feira passada foi dia de festa. Os dois inseparáveis amigos criados por Bill Waterson apagaram 23 velas, depois de muitas e muitas pranchas de bom humor, máscaras de considerações existenciais próprias da poderosa mente infantil (ou talvez não). A mesa recebe esta carta em formato de postal de aniversário, convidando à celebração.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

16 de Novembro de 2008

Tem sido recorrente a convocação de José Saramago como uma carta nesta mesa, mas o Nobel merece – ainda que com dois dias de atraso – ser felicitado pelas suas 86 primaveras. Um abraço e parabéns.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

1926-2008

O cinema português está de luto, com a morte na última quarta-feira de uma (ou da) diva da nossa sétima arte. Milú, nome artístico de Maria de Lurdes de Almeida Lemos, despediu-se da vida e deixa um nostálgico vazio que irá fazer muita gente rever os filmes que a celebrizaram. Os filmes são o que fica, impressão luminosa de uma radiosa luz que se extinguiu.
Estreou-se no cinema em 1938, com 12 anos, em Aldeia da Roupa Branca, de Chianca de Garcia; mas foi em 1943 que Arthur Duarte a dirigiu em O Costa do Castelo, levando-a ao estrelato. Neste filme, a Luisinha encantou (e continua a encantar, acho eu) e cantou. A "Cantiga da Rua" fechava em festa um filme de uma equipa muito bem montada que nos deu algumas das melhores comédias do nosso cinema. E claro, havia "A Minha Casinha", muito, mas muito tempo antes dos Xutos e Pontapés a terem recriado.
Foi provavelmente com este filme ou com O Leão da Estrela, 1947, de Arthur Duarte, que também eu me deixei encantar com Milú, algures na pré-adolescência, quando nas tardes de fim-de-semana a via representar com António Silva, Curado Ribeiro, Laura Alves ou Artur Agostinho, através do cinescópio de uma velha "Nordmende", na companhia de uma avó que foi a pessoa primeira a incutir em mim o gosto pela sétima arte.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

YES WE CAN!

E o "miúdo do nome engraçado" chegou a Presidente. A vitória é clara e não deixa margem para dúvidas sobre a vontade de um povo. Povo que, desiludido com o anterior - e ainda presidente - inquilino da Casa Branca, cuja vida está nas telas portuguesas no filme W de Oliver Stone; gritou bem alto o nome que mais se reproduziu na imprensa dos últimos meses.
Sou dos que gostam de pensar que esse mesmo povo está amadurecido, ainda que à força, por via de uma sucessão de disparates causadores de desilusões, impulsionado por uma geração de novos votantes mais afastados de "políticas de far-west".
Mas basta, porque neste blog não se pretende falar de política. O acontecimento é de assinalar e sublinhar, ocorrendo-me um filme de letra grande, como quase tudo o que vinha do realizador Frank Capra: Mr. Smith Goes to Washington. Traduzido para português como Peço a Palavra, contava a história de Smith (James Stewart), um jovem e ingénuo senador de bom coração, cheio de honestidade e de vontade de trabalhar, que tinha que enfrentar sozinho todo um sistema político criado e alimentado por tubarões ferozes, animais políticos pouco honestos e recomendáveis.
Curiosamente (ou não), esse filme passou há dias na televisão pública. Aos que nunca viram, recomenda-se. Para os que viram ou reviram, a pergunta é: Seria o filme de Frank Capra uma profecia?

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O Mar como Património


Foi num ambiente de serenidade mas de confiança, que teve lugar a abertura da exposição Tavira, Patrimónios do Mar, em instalações da Câmara Municipal. Os tavirenses viram a área de exposições do Palácio da Galeria transformarem-se naquilo que é a primeira exposição-piloto para um futuro museu municipal.
para quem conhece a cidade "por dentro", sabe bem da importância deste projecto, num concelho que se vira cada vez mais para o turismo cultural, que neste caso conta com os (hoje) incontornáveis audio-visuais, em vez de apresentar uma colecção de peças arqueológicas - que as há - sem suporte imagético que melhor capte as pessoas para a sua compreensão. É possível visionar uma animação multimédia, um videograma, uma instalação video e mesmo um filme documental rodado na Tavira (como era fantástica!) do princípio dos anos '60.
Parabéns à Rita Manteigas, Comissária, e ao Jorge Queiroz, Director do Museu, cujo empenho à frente de uma equipa multidisciplinar e entusiasta soube concretizar este projecto.

O Ensaio Segundo Meirelles


Está para chegar a Portugal o filme Blindness, do brasileiro Fernando Meirelles. Este realizador dos "filmes-catástrofe" do novo século, promete surpreender pela concepção realista de que resultou o desafio de dirigir actores que não representam com os olhos nem, por consequência, têm a mesma forma de interagir entre si. Baseado no colossal (adjectivação minha) livro de José Saramago Ensaio Sobre a Cegueira, não colhe grande consenso, facto que se deve mais ao seu conteúdo do que á sua construção. O The Guardian fala de "pesadelo apocalíptico", descrevendo os seus conteúdos violentadores. O La Nación refere a frieza com que foi recebido, enquanto outros referem "um choque azedo e inesperado" (The Times); "deprimente" abertura do Festival de Cannes. A verdade, meus amigos, é que se trata de uma fidelíssima adaptação à tela de uma obra difícil de um escritor já de si difícil, na proa da literatura contemporânea mundial. Saramago afirmou estar tão contente em ter visionado o filme, como quando acabou de escrever o livro; apesar da violência que está implícita na sua leitura e também na escrita. Diz Saramago: "Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultâneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso".
Veremos o que nos reserva a recepção portuguesa. Entretanto, recomendo vivamente a leitura de Ensaio Sobre a Cegueira. Para os que não vão lêr (pelo menos até lá) fica o "cartão de visita" do frontispício: "Se podes olhar, vê. Se podes vêr, repara".

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Algarve vs. Allgarve

O Verão está acabado. A crise capitalista, começada. Depois das férias, a rentrée teima em não dar sinal de coisa nenhuma até começar a febre natalícia, própria da época seguinte em que a sofreguidão consumista gasta o dinheiro que tem e, muitas vezes, o que não tem.
Em 21 de Setembro último, o cronista José Júdice – um “patrício” algarvio – surgiu na revista Pública com um texto sobre as diferenças entre Algarve e Allgarve, de que deixo aqui algumas passagens. Descubra as diferenças entre duas equações.

Algarve, numa tarde em Setembro. À minha frente, ao longo do vale que a ribeira do Farelo cava há milénios entre cerros calcários cobertos de vegetação pobre e selvagem já acastanhada pela secura, as folhas dum imenso pomar de laranjeiras formam uma fita de cetim untuoso verde-escuro. Aqui e ali, o vermelho de sangue das flores das buganvílias que alegram paredes e muros de casas e hortas. Solitário, o tronco esguio de uma velha palmeira recorta-se no céu azul-claro do fim do Verão. Uma leve brisa espalha um pouco de frescura sob o sol em brasa das cinco da tarde, uma bola quente e alaranjada que aumenta de tamanho à medida que se aproxima do seu destino quotidiano, o mergulho silencioso no horizonte, nas águas geladas do oceano para lá do promontório de Sagres. E lá muito ao fundo, para sul, na direcção da costa e das praias agora já quase desertas, as silhuetas de torres e torres, prédios de habitação e hotéis, agitam-se com a reverberação do calor num estertor moribundo de fim da época balnear (…)
Os laranjais que eu vejo estão abandonados. As velhas árvores, algumas quase centenárias, estão ressequidas. Bebem a pouca água que as mantém vivas da humidade do solo permeado pela ribeira. Ninguém as rega, ninguém as trata, ninguém lhes colhe os frutos que caem no chão e apodrecem porque ninguém os compra. Uns poucos velhos, sobreviventes de uma época não muito distante em que havia lavradores e caseiros, proprietários e trabalhadores rurais, ricos, remediados e pobres que viviam bem ou mal do que o campo dava, e em que não havia fronteiras abertas à importação de frutas e legumes, sentam-se à beira da estrada, abrigados da torreira do sol debaixo duma sombrinha ou dum chapéu de sol de praia de plástico feito na China. Ao lado, numas pobres caixas de madeira que também já viram melhores dias, o letreiro numa tabuleta diz que se vendem laranjas. Nos hipermercados ali perto, que abastecem a marabunta turística, também se vendem laranjas. São do Uruguai, diz a etiqueta.
As casas que eu vejo enfeitadas com o colorido pujante das buganvílias são ruínas. As paredes de taipa a esboroarem ao vento e à chuva porque há muito que ninguém lhes passa a cal protectora por cima. Os telhados de uma água de telha moura caídos porque as vigas apodreceram. A única porta da habitação, quando ainda existe, presa por arames (…)
O Allgarve, como diz o folheto oficial, são “experiências que marcam”. Saído da cabeça tola dum publicitário e adoptado extremosamente pelo ministro Manuel Pinho, o Allgarve tornou-se sinónimo de tudo aquilo que o Algarve não devia ser. Fiadas de prédios absurdos para encaixotar turistas baratos do Norte da Europa, aldeamentos e urbanizações intermináveis numa sucessão de pórticos, colunas, varandinhas e varandins, telhados e telhadinhos de telha lusa encaixados uns nos outros, quilómetros e quilómetros de balaustradas em terraços que ninguém visita e chaminés allgarvias aos molhos em betão pré-fabricado, barbecues com vista para a casa do vizinho e relvados ridículos e mal tratados que ninguém usa atravessados à frente da garagem. Uma sucessão sem fim nem nexo de urbanismo descontrolado, de construção apressada, de arquitectura medíocre, de falso “estilo mediterrânico” desenhado por promotores nórdicos ou, na pior das hipóteses, no estilo algarvio derramado das vivendas com arcobotantes enxertados à ilharga para imitar o antigo (…)
Os 400 mil algarvios e os dez milhões de allgarvios tiveram oportunidade de assistir a exposições e concertos que, de outro modo, talvez não pudessem. De Elvis Costello (um equívoco, com o pessoal da Quinta do Lago e Vilamoura a gritar ao artista “canta o xi!”) a Paolo Conte e Dee Dee Bridgewater, ninguém se pode queixar a não ser talvez do excesso. E do ridículo do programa oficial, em português, insistir em acrescentar que após cada espectáculo haveria um after party na discoteca mais próxima. Ninguém fala português no Algarve, acham eles?
Talvez. A época do circo do turismo vai de Maio a Outubro. Na maior parte dos sítios, já se desmontaram as tendas, já se correram os tapumes, já se fecharam as lojas, os restaurantes e os bares, e já se apagaram as luzes dos condomínios e dos aldeamentos (…)
Vivo no Algarve há tempo suficiente para saber que não se muda nada o carácter das coisas acrescentando-lhe letras. Vivo na fronteira entre os dois Algarves, à beira da EN125. Se der um passo para a direita, estou no Allgarve dos spas, dos resorts, dos after parties, das happy hours, das home of your dreams e da coca-cola com sardinha assada. Se der uma passo para a esquerda, estou no Algarve parado no tempo, dos campos e das hortas abandonadas, das carroças que apodrecem ao lado dos Corsas, Pólos, Fiestas e Civics onde os que ainda moram nas vilas e aldeias do interior se deslocam todos os dias para os empregos no turismo do litoral. E onde as pessoas não vão ver Paolo Conte ou Lou Reed, mas a Ana Rita e o seu acordeão na Festa do Berbigão – cockle party, como diz o cartaz, que aqui também é Algarve.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

António de Macedo: O Bom, o Mau e o Vilão

Para aqueles que não conhecem, tenho o prazer de apresentar António de Macedo. Cineasta, escritor e investigador, Macedo vai passando por merecidas homenagens, ainda que não sejam alvo de grande alarde noticioso. Depois de tímida espécie de homenagem na Cinemateca, onde foi possível ver o seu último filme, Chá Forte com Limão, do já longínquo 1993; recebeu o prémio de Consagração de Carreira da SPA; e mais recentemente foi homenageado no Encontro de Cinema Fantástico Português, que decorreu na Faculdade de Belas Artes de Lisboa.
António de Macedo, o Vilão, pois teve a frontalidade de, enquanto cineasta, enfrentar um sistema que defendia - e defende - como parcial e tendencioso na atribuição de subsídios para que se façam filmes no nosso país; facto que lhe valeu uma guerra com o então-poder e o elevado preço de não voltar a filmar.
António de Macedo, o Mau, pois o seu cinema é injustamente rotulado por quem faz de opinion-maker como kitsch, vulgar e desinteressante, em vez de inventivo e caso singular de uma obra coerente; ao longo da quase totalidade das suas 15 longas-metragens, fora o grande resto.
António de Macedo, o Bom, pois os seus filmes são feitos com base em ideias do seu interesse – e não vou referir que há aqui alguns dos maiores êxitos de bilheteira do luso cinema –, que é possível juntar num grande grupo a que se pode chamar exotérico-científico; nunca se tendo desviado desse mesmo caminho; e além do mais, tendo sido o único realizador que verdadeiramente se interessou de forma preocupada, investigando e solucionando novos horizontes técnicos. O único que em Portugal se debruçou sobre a problemática dos efeitos visuais, agindo como (também) investigador; e isto nos anos 70 e 80.
O seu trabalho de escritor é já um percurso coerente no campo exotérico e neo-gótico, campos em que é investigador; e para trás ficam manifestações de interesse por campos musicais concretos e em cinema. Fez parte do verdadeiro e restrito núcleo central do Cinema Novo Português, juntamente com Paulo Rocha, Fernando Lopes e António da Cunha Telles. É neste âmbito que surge a sua primeira longa-metragem de ficção, Domingo à Tarde, no ano de 1965. As outras são:
Sete Balas Para Selma, 1967
Nojo aos Cães, 1970
A Promessa, 1972
O Rico, o Camelo e o Reino ou O Princípio da Sabedoria, 1975
As Horas de Maria, 1976
O Príncipe com Orelhas de Burro, 1979
Os Abismos da Meia-Noite ou As Fontes Mágicas de Gerénia, 1983
Os Emissários de Khalôm, 1987
A Maldição de Marialva, 1990
Chá Forte com Limão, 1993

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

A Viagem do Elefante


Sim, meus amigos. Saramago está de volta com um livro que tem este título. Uma espécie de romance interactivo - mais do que o costume - concluído depois da angústia da doença que o fez duvidar da conclusão do trabalho. Mas Saramago reanuncia-se no momento em que inaugura o seu blog que pode ser consultado em http://blog.josesaramago.org. A prova de que o respeitável decano da nossa literatura está atento aos sinais dos tempos, como de resto tem mostrado ao longo da sua extraordinária obra que corre muitos milhares de páginas de impressionante força narrativa, sempre com grande patriotismo, ao contrário do que se possa (e alguns fazem-no) afirmar. José Saramago já pôs o dedo em várias feridas portuguesas, como o trabalho rural que era em tempos vivido em condições sub-humanas (Levantado do Chão); as podridões de uma aristocracia bacoca (O Memorial do Convento); retratou Lisboa e homenageou Fernando Pessoa (O Ano da Morte de Ricardo Reis); fez um brilhante exercício crítico à "nossa" realidade europeia (A Jangada de Pedra); mostrou-nos a nossa sociedade de auto-cegueira (Ensaio Sobre a Cegueira). Digam-me: não será isto o mais puro dos patriotismos? Ele, que foi vítima de anti-patriotismo com um livro censurado (ou lá como quiserem dizer), no momento em que O Evangelho Segundo Jesus Cristo poderia ter sido um colosso da literatura internacional.
E mais não adianto. Sobre A Viagem do Elefante, deixo um pequeno fragmento: Fez plof e sumiu-se. Há onomatopeias providenciais. Imagine-se que tínhamos de descrever o processo de sumição do sujeito com todos os pormenores. Seriam precisas, pelo menos, dez páginas. Plof.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Parabéns Cinemateca!


A Cinemateca está em pleno aniversário. Em Setembro vai soprar cinquenta velas, com um programa recheado de belíssimas pérolas para ver ou rever. O programa é tão rico, que devia haver um passe para a totalidade das sessões, suponho que o problema está em escolher o que ver.

Por mim, recomendo algumas coisas portuguesas que não são vistas todos os dias. Maria do Mar, Leitão de Barros, 1930, é talvez o melhor filme português desde que foi feito. Trás-os-Montes, António Reis e Margarida Cordeiro, 1976 e Falamos de Rio de Onor, António Campos, 1974, são duas pérolas do documentarismo português pós 25 de Abril. Scenes From the Class Struggle in Portugal, Robert Kramer e Philip Spinelli, 1977, é do melhor que se fez em Portugal durante e sobre o PREC.

Mas a cereja no topo do bolo - atenção amantes de História - é a sessão em que se exibem seis números do Jornal Português! O Jornal Português foi um jornal de actualidades cinemartográficas - assim se chamavam - que abriam as sessões de cinema e que foi produzida entre 1938 e 1951. Do melhor para quem quiser aprender como o Estado Novo de Salazar manipulava a informação naqueles tempos. A sessão promete. Claro que vai haver quem aproveite para anunciar o fascismo de quem autoriza e selecciona coisas destas. Mas meus amigos, História é História. E a História do Cinema Português faz-se em torno do regime de Salazar. Isso é uma verdade incontornável. Não é preciso gostar, basta raciocinar.

Bons filmes a todos!

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Out of Sydney

Com a morte de Sydney Pollack o cinema americano perdeu o "último dos românticos de Hollywood", como vários orgãos de comunicação social se lhe referiram. Mas estará o cinema americano mais pobre?
Será o realizador tão incontornável assim? A verdade é que Pollack foi porventura mais importante como produtor do que como realizador. A sua actividade de produtor deu resultados como a adaptação da obra de Jane Austen Sense and Sensibility, onde uma grande senhora chamada Emma Thompson permite que uma actriz encontre o trampolim para o estrelato: Kate Winslet. Outro filme, Cold Mountain, foi aclamado e premiado devido não somente à bela tragédia de Nicole Kidman e Jude Law, mas sobretudo devido ao pedaço de narrativa melodramática tão cara à cultura americana. Para não falar do musical The Fabulous Baker Boys, do melodrama The Talented Mr. Ripley, da dureza fascinante de Breaking and Entering e do aclamado Michael Clayton. Tudo filmes que atravessam as duas últimas décadas cinematográficas e para cuja História contribuiram.
A realização de Pollack é bem menos categórica. Nos reestruturantes anos '70 o cineasta prometeu estar ligado à cultura americana revisitada, com They Shoot Horses, Don't They? (1969), com a Depressão como pano de fundo; Jeremiah Johnson (1972), com o incontornável western e suas múltiplas aplicações; Three Days of the Condor (1975), e a sua inspiração no policial negro; ou ainda The Yakuza (1975), onde a americanização colide com a cultura japonesa e as suas tradições.
O seu primeiro grande sucesso é a comédia Tootsie (1982), graças à magistral interpretação de Dustin Hoffman e o seu travesti que fascinava a ingénua Jessica Lange. Voltou à comédia com Sabrina (1995), pobre remake em que Julia Ormond e Harrison Ford davam vida às personagens dos gigantes Audrey Hepburn e Humphrey Bogart, no clássico homónimo do genial Billy Wilder. O filme The Firm (1993), vive do "menino bonito" e honesto advogado Tom Cruise, da mesma forma que Havana (1990), vive do galã Robert Redford no estertor da Cuba de Fulgencio Batista. Quanto ao seu último filme, The Interpreter (2005), a problemática dos sanguinários ditadores africanos é o mote, onde a vítima e agora intérprete na Assembleia Geral das Nações Unidas Nicole Kidman, promete e elabora a sua vingança. O resultado é um cativante thriller filmado entre Nova Iorque e a ficcionada República de Matobo, com claras alusões ao problema do Zimbabwe de Mugabe. Mas, pergunto eu, o que seria de Nicole Kidman sem ser secundada por um excelente Sean Penn? Kidman, actriz cujo valor não está em causa, é a cara bonita que está no prato da balança contrário ao desequilibrio emocional do polícia (Penn). Mas este, é o prato que se mantém em baixo...
Falta apontar o incontornável Out of Africa (1985), o grande sucesso de Pollack, largamente aclamado e premiado, baseado no livro de Karen Blixen. Não há um momento em que se diga que o filme é muito bom. É antes, isso sim, um filme bonito. Ou se quisermos, um filme de grande beleza. E onde está Pollack nesta obra? A interpretação é da grande Meryl Streep, longe das suas melhores composições, secundada por um Robert Redford do mesmo timbre. Salva-se o carismático Klaus Maria Brandauer, que compõe a melhor representação da fita.
A beleza do filme (que é a melhor forma de o elogiar) provém de que factor? A bela história de amor não faria o mesmo sentido, não teria o mesmo impacto, sem as magistrais imagens, planos colossais de uma África com suas belezas naturais. A planificação é de Pollack, correcto. As imagens, essas, são do excelente trabalho de fotografia de David Watkin. E neste particular, já falava o teórico e realizador Sergei Eisenstein de um cinema "de belas imagens que nada acrescentam", a propósito de algumas concepções de companheiros seus. A acompanhar a fotografia podemos "contemplar" o inegável e superior trabalho musical de John Barry, um compositor habituée em Hollywood, este sim de obra incontornável, desde muitas composições para filmes da série 007, até Dances With Wolves (1990), que por sinal é muito mais filme que Out of Africa...

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Le Corbusier em Lisboa


A partir de hoje e até 17 de Agosto, está patente em Lisboa no Museu da Colecção Berardo, uma grande retrospectiva de um dos maiores arquitectos do séc. XX - e de sempre. Dividida em três módulos fundamentais, podem ser vistas maquetas, pinturas, esculturas e desenhos.

Coleccionador, pintor, designer, é pela sua actividade como arquitecto e urbanista que é mais conhecido. Do seu verdadeiro nome Charles-Edouard Jeanneret (1887-1965), o arquitecto franco-suíço é responsável pela aproximação da arquitectura às necessidades humanas através do seu Funcionalismo, compreendendo que o fenómeno automóvel teria profundo impacto e exigiria planeamento urbano. Negando a côr aos edifícios, regra que defendia, negando à sua arquitectura funcionalista quaisquer nacionalismos; abre caminho ao que mais tarde veio a ser designado por Estilo Internacional, de que são representantes, por exemplo, Walter Gropius e Mies van Der Rohe.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Vieira da Silva Par Elle Même

Chegam hoje ao Auditório da Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, as palavras da pintora, sob a forma de espectáculo. Baseando-se no que Maria Helena Vieira da Silva disse ao longo da sua vida a diferentes jornalistas, Maria José Paschoal escreveu um texto, que interpreta, com direcção artística de Elsa Lisboa. O resultado é Vieira da Silva para Elle Même, uma peça de teatro, com um cunho autobiográfico muito forte. Fica aqui a certeza de que tudo o que é dito em palco são as verdadeiras palavras, opiniões, incertezas, dúvidas e questões, que Vieira da Silva desejou partilhar com o público, a propósito da sua vida e do seu trabalho artístico. Esta é de facto uma das melhores formas de sentir e perceber o seu trabalho e a sua personalidade, no ano em que se celebra o centenário do nascimento da artista Maria Helena Vieira da Silva (1908-2008). Nas palavras de Jean-François Jaeger, membro do comité Arpad Szenes Vieira da Silva e responsável pela Galerie Jeanne-Bucher em Paris, este espectáculo "permite transmitir ao público e sobretudo aos jovens a mensagem de verdade, de empenho e de dúvida que correspondeu à personalidade dessa grande arttista". Os espectadores da peça de teatro, que desejem assistir à exposição antes ou depois dos espectáculos de teatro, pagam apenas mais 1,50€ para visitar a exposição. Na sexta-feira 13 de Junho, será exibido um espectáculo especial, às 21h30h, por ser o dia de aniversário da pintora Vieira da Silva.
Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva
Praça das Amoreiras, Nº 56
15 de Maio a 15 de Junho
5ª feira - 19:00h
Sábados - 16:00h, 21:30h
Domingos - 16:00h
Entrada - 10€
Maiores de 12 anos

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Robert Rauschenberg, 1925-2008


Rauschenberg, o pintor. Mas foi muto mais que isso. Trabalhou o diálogo entre pintura e escultura. Fez fotografia. Dedicou-se à performance. Um artista plástico do "trash" que colectava em Nova Iorque, devolvendo-o ao espaço, à contemplação, transformado. Artista do Expressionismo Abstracto. Chamaram-no Neo-Dada. Foi percursor da Pop Art.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Herzog vs. Kinski

Werner Herzog é um realizador que descobri há muito pouco tempo. Já em tempos tinha visto o filme Fitzcarraldo em emissão televisiva, e sempre tive vontade de conhecer melhor esta figura, um dos expoentes do Cinema Novo Alemão.

Aclamado pela crítica, sobretudo nos circuitos de cinema independente, popular entre os espectadores, construiu durante – sobretudo – os anos 70’ do século XX a sua reputação, a qual não goza de muito boa fama. Trata-se de um homem que faz filmes de temas suficientemente controversos, e que deixam mensagens a condizer. Um realizador que improvisa guiões à medida que cada uma das rodagens avança, envolta em névoas de mistério, muitas vezes em lugares inóspitos que levam ao risco de vida dos intervenientes.

Nascido em 1942, com fortes e marcantes memórias da 2ª Guerra Mundial, recusa aos doze anos em Munique, uma participação na sua escola em que tinha de cantar perante a turma, facto pelo qual esteve à beira da expulsão. Experiência traumática, só aos dezoito anos haveria de voltar a ouvir música. Anos antes, com a idade de catorze, uma enciclopédia foi o manual de iniciação à cinematografia e rouba da Escola de Cinema de Munique uma câmara 35 mm.

Mas tal rumo já Herzog decidira dar à sua vida. De volta à sua Munique aos doze anos, no final de um processo de sofrimento causado pela guerra e anos que se lhe seguiram, a sua família partilha um apartamento com Klaus Kinski. Diz Herzog: “Naquele momento eu soube que seria realizador e dirigiria Kinski”. A sua obra, os seus mais marcantes filmes, estão intrinsecamente ligados a esta super hiper carismática personagem.

Em Aguirre, o Aventureiro, Klaus Kinski é um aristocrata perdido com o seu séquito em plena floresta peruana, na procura do El Dorado. Os encontros com indígenas e as lutas de poder no interior do grupo fazem de Aguirre o único sobrevivente, numa jangada destruída na margem, invadida por dezenas de pequenos macacos. É neste momento, ao agarrar um destes seres, observando-o, que percebe que mais não é do que um deles, de uma pequenez sem expressão. Cobra Verde, um perigoso bandido do sertão, é enviado para negociar escravos com o rei do Daomé, acabando a comandar um exército de mulheres que destituem o monarca. Nas margens do Daomé, Cobra Verde desespera bizarramente por voltar ao seu país, observado por um deficiente motor de difícil compreensão. Baseado numa história verídica, o barco fluvial de Fitzcarraldo é transportado pelo interior da floresta, uma aventura de contornos impensáveis para atingir um rico território de borracha no interior do Peru. Estes são os três mais na minha descoberta, uma boa surpresa vinda da cinematografia de uma época alemã por vezes esquecida, apenas lembrada por Rainer Fassbinder e pouco mais…

Klaus Kinski é para Werner Herzog o mesmo que John Wayne é para John Ford, ou Toshiro Mifune para Akira Kurosawa. A sua forte, vincada e inebriante expressão e olhar foram a cara de um lado wagneriano do cinema de Herzog, que muito tem a ver com o melancólico e tenebroso Romantismo e mesmo com o Expressionismo, ou não fosse este uma “derivação” germânico-taciturna do primeiro. Filmes como Aguirre, o Aventureiro (1970), Woyzeck, O Soldado Atraiçoado (1978), Nosferatu, o Vampiro (1978), Fitzcarraldo (1982) e Cobra Verde (1987) são disso exemplo maior. Outros títulos a ter em conta: Até os Anões Começaram Por Baixo (1970), A Canção de Bruno S. (1970), Fata Morgana (1971), O Enigma de Kaspar Hauser (1974).

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Braço de Prata

Está quase a fazer um ano que nasceu o projecto da Antiga Fábrica de Braço de Prata. A aposta da Eterno Retorno de Nuno Nabais e da sociedade com a Ler Devagar não começou tão bem como se esperava. Mas hoje, é uma espaço incontornável da noite cultural da cidade de Lisboa, onde se pode ouvir sobretudo jazz, ver cinema, ler e comprar livros. Ver exposições e instalações, ver teatro e performances. Pode-se jantar em excelente ambiente, ou apenas beber um copo, mesmo que seja a acompanhar a música. Até se pode, por vezes, dançar até altas horas. Perdoe-me quem puder, mas conhecendo esta casa desde o berço e tendo ajudado ao seu parto, tenho que dar os parabéns ao Nuno Nabais acima de qualquer outra pessoa. A sua "casa de alterne cultural" é um sucesso de que há obrigação de manter. Eis aqui a programação para este fim de semana. http://www.bracodeprata.org/

terça-feira, 6 de maio de 2008

Saudações!

O nome é emprestado de "Cartas na Mesa", escrito por Rogério Ceitil e por Assis Pacheco. A abrir o ano de 1975 estreava esta obra realizada por Ceitil; e daí a pouco o PREC iria começar e estender-se pelo chamado"Verão Quente"; que é parte do meu imaginário (infantil) e época das mais remotas lembranças televisivas que consigo distinguir. Foi por isso que escolhi esta altura do ano para iniciar estas "hostilidades" escritas, agora que passámos a "quadra" de Abril-Maio deste 2008, 33 anos depois do surgimento da sigla revolucionária que os portugueses aprenderam querer dizer Processo Revoluconário Em Curso.

Sempre gostei do título deste filme, e confesso que não é a primeira vez que o uso como "secção de escrita" na internet. Assim, partimos de um título de um filme português (de um cinema tão mal tratado tantas vezes), para dar início às "hostilidades" escritas neste espaço; que pretende ser um lugar de reflexão, notícia, comentário, apontamento histórico, etc. De 7ª Arte e de outras coisas mais.

Estão todos convidados a participar.