sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Byblografia

A notícia é de ontem de manhã, pelo menos. Desiludam-se aqueles que acham que a crise é coisa de somenos, ela veio para ficar. Que o digam os responsáveis pela livraria Byblos em Lisboa, a maior do país, que ontem já não tiveram capacidade para abrir as portas.
Nesta carta de pesar que vem à mesa, assinala-se o fim de um espaço de cultura que acaba por ir ao tapete sem mais horizontes que não os da hipotética salvação por outro grupo que lhe restitua alguma força. Da minha parte, lamento o desaparecimento de uma excelente oferta livreira, onde o cliente podia saborear um café calmamente sentado enquanto folheava avidamente uma qualquer obra que ora sentia na sua posse. Onde um jornal podia ser acompanhado por uma sopa (que podia não ser de letras), ou por uma refeição tão saudável como a leitura de um best-seller.
Isto na altura em que toda a gente começa a ser invadida pelo espírito (fúria) natalício, pode ser um revés. Planeava eu fazer por ali parte das chamadas Compras (assim mesmo, com letra grande) de Natal. Pois, infelizmente há por aí muito quem pense que compras (com letra pequena) de Natal é encher até cima meia-dúzia de carrinhos de supermercado, todos em corrida até às caixas de pagamento, encalhando nos “vizinhos” do lado e chocando de frente com quem persegue furiosamente mais um pacote de caju; comprar 50 peças de roupa nova e gastar o resto a mimar os estimados petizes com a Play Station Portable e outras traquitanas que acabam, cedo ou tarde, esquecidas debaixo de um sofá.
Fica o conselho: Ofereça livros, mesmo que não sejam daqueles “chatos”, só com letras do princípio ao fim… Bom fim-de-semana que as Festas, apesar de tudo, ainda vêm longe.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Calvin & Hobbes


Terça-feira passada foi dia de festa. Os dois inseparáveis amigos criados por Bill Waterson apagaram 23 velas, depois de muitas e muitas pranchas de bom humor, máscaras de considerações existenciais próprias da poderosa mente infantil (ou talvez não). A mesa recebe esta carta em formato de postal de aniversário, convidando à celebração.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

16 de Novembro de 2008

Tem sido recorrente a convocação de José Saramago como uma carta nesta mesa, mas o Nobel merece – ainda que com dois dias de atraso – ser felicitado pelas suas 86 primaveras. Um abraço e parabéns.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

1926-2008

O cinema português está de luto, com a morte na última quarta-feira de uma (ou da) diva da nossa sétima arte. Milú, nome artístico de Maria de Lurdes de Almeida Lemos, despediu-se da vida e deixa um nostálgico vazio que irá fazer muita gente rever os filmes que a celebrizaram. Os filmes são o que fica, impressão luminosa de uma radiosa luz que se extinguiu.
Estreou-se no cinema em 1938, com 12 anos, em Aldeia da Roupa Branca, de Chianca de Garcia; mas foi em 1943 que Arthur Duarte a dirigiu em O Costa do Castelo, levando-a ao estrelato. Neste filme, a Luisinha encantou (e continua a encantar, acho eu) e cantou. A "Cantiga da Rua" fechava em festa um filme de uma equipa muito bem montada que nos deu algumas das melhores comédias do nosso cinema. E claro, havia "A Minha Casinha", muito, mas muito tempo antes dos Xutos e Pontapés a terem recriado.
Foi provavelmente com este filme ou com O Leão da Estrela, 1947, de Arthur Duarte, que também eu me deixei encantar com Milú, algures na pré-adolescência, quando nas tardes de fim-de-semana a via representar com António Silva, Curado Ribeiro, Laura Alves ou Artur Agostinho, através do cinescópio de uma velha "Nordmende", na companhia de uma avó que foi a pessoa primeira a incutir em mim o gosto pela sétima arte.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

YES WE CAN!

E o "miúdo do nome engraçado" chegou a Presidente. A vitória é clara e não deixa margem para dúvidas sobre a vontade de um povo. Povo que, desiludido com o anterior - e ainda presidente - inquilino da Casa Branca, cuja vida está nas telas portuguesas no filme W de Oliver Stone; gritou bem alto o nome que mais se reproduziu na imprensa dos últimos meses.
Sou dos que gostam de pensar que esse mesmo povo está amadurecido, ainda que à força, por via de uma sucessão de disparates causadores de desilusões, impulsionado por uma geração de novos votantes mais afastados de "políticas de far-west".
Mas basta, porque neste blog não se pretende falar de política. O acontecimento é de assinalar e sublinhar, ocorrendo-me um filme de letra grande, como quase tudo o que vinha do realizador Frank Capra: Mr. Smith Goes to Washington. Traduzido para português como Peço a Palavra, contava a história de Smith (James Stewart), um jovem e ingénuo senador de bom coração, cheio de honestidade e de vontade de trabalhar, que tinha que enfrentar sozinho todo um sistema político criado e alimentado por tubarões ferozes, animais políticos pouco honestos e recomendáveis.
Curiosamente (ou não), esse filme passou há dias na televisão pública. Aos que nunca viram, recomenda-se. Para os que viram ou reviram, a pergunta é: Seria o filme de Frank Capra uma profecia?