quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Oliveira, o Centeneasta

O nosso decano do Cinema Manoel de Oiveira faz hoje a bonita idade de cem anos. Esta carta vem à mesa para celebrar a efeméride, procurando estabelecer uma cinematografia tão completa quanto possível. Quanto ao resto, parece-me que é ainda muito cedo para comentar. A História se encarregará de colocar Mestre Oliveira no seu devido lugar (seja ele qual for) pois, acreditem, muitas vão ser ainda as considerações tecidas sobre a sua obra e muitas as descobertas. Mas essas são coisas que ao futuro pertencem. Afinal de contas, ninguém disse e nem poderia dizer (e contudo parece ser um sintoma) que estes cem anos de vida são um ponto de chegada…
Eis os filmes. Excepto os casos indicados, todos são obras de ficção e de sua autoria.

Fátima Milagrosa, Rino Lupo, 1928 (actor)
Douro, Faina Fluvial, 1931 (Documentário)
Hulha Branca, 1932 (Documentário)
Estátuas de Lisboa, 1932 (Documentário inacabado)
A Canção de Lisboa, Cottinelli Telmo, 1933 (actor)
Miramar, Praia das Rosas, 1938 (Documentário desaparecido)
Portugal Já Faz Automóveis, 1938 (Documentário)
Famalicão, 1940 (Documentário)
Aniki Bóbó, 1942
Exposição Heráldica do Trabalho, Perdigão Queiroga, 1956 (Documentário, fotografia)
O Pintor e a Cidade, 1956 (Documentário)
Imagens de Portugal 105, António Lopes Ribeiro (Actualidades, fotografia)
A Rainha Isabel II em Portugal, António Lopes Ribeiro, 1957 (Documentário, fotografia)
O Coração, 1958 (Inacabado)
O Pão, 1959 (Documentário)
Acto da Primavera, 1962
A Caça, 1963
Vilaverdinho, 1964 (Documentário)
As Pinturas do Meu Irmão Júlio, 1965 (Documentário)
A Propósito da Inauguração duma Estátua (Porto, 1100 Anos), Lopes Fernandes, Artur Moura e A. Baganha, 1970 (Documentário, supervisão)
André, a Cara e a Coragem, Xavier de Oliveira, 1971 (montagem)
O Passado e o Presente, 1971
Sever do Vouga Uma Experiência, Paulo Rocha, 1971 (supervisão)
Benilde ou a Virgem Mãe, 1974
Deliciosas Traições do Amor, Domingos Oliveira, Tereza Trautman, Phudias Barbosa, 1975 (montagem)
Amor de Perdição, 1978
Conversa Acabada, João Botelho, 1981 (actor)
Francisca, 1981
Visita ou Memórias e Confissões, 1982 (só será exibido após a sua morte)
Lisboa Cultural, 1983 (Documentário)
Nice – À Propos de Jean Vigo, 1983 (Documentário)
Le Soulier de Satin, 1985
Simpósio Internacional de Escultura, 1985 (Documentário co-realizado com Manuel Casimiro)
Mon Cas, 1986
A Propósito da Bandeira Nacional, 1987 (Documentário)
Os Canibais, 1988
“Non” ou a Vã Glória de Mandar, 1990
A Divina Comédia, 1991
O Dia do Desespero, 1992
Oliveira, o Arquitecto, Paulo Rocha, 1993 (Documentário, entrevistado)
Vale Abraão, 1993
A Caixa, 1994
Viagem a Lisboa, Wim Wenders, 1994 (actor, participação especial)
O Convento, 1995
En Une Poignée de Mains Amies, 1996 (Documentário co-realizado com Jean Rouch)
Party, 1996
Viagem ao Princípio do Mundo, 1997
Inquietude, 1998
A Carta, 1999
Palavra e Utopia, 2000
Vou Para Casa, 2001
Porto da Minha Infância, 2001 (Documentário)
O Princípio da Incerteza, 2002
Momento, 2002 (Clip musical)
Um Filme Falado, 2003
O Quinto Império Ontem Como Hoje, 2004
Espelho Mágico, 2005
Do Visível ao Invisível, 2005
Belle Toujours, 2006
O Improvável Não é Impossível, 2006
Cristóvão Colombo – O Enigma, 2007
Rencontre Unique, 2007 (Segmento de Chacun Son Cinéma)
O Poeta Doido, o Vitral e a Santa Morta, 1965/2008 (Documentário)
A Vida e a Morte – Romance de Vila do Conde, 1965/2008 (Documentário)
Singularidades de Uma Rapariga Loura (em rodagem)
O Estranho Caso de Angélica (em preparação)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O Fado Vai ao Cinema

Amália, O Filme, estreou em grande na última 5ª feira, com um total de 66 cópias de distribuição nas salas portuguesas. Envolto em polémica, os responsáveis pela produção alegam não ser um "biopic", mas sim uma obra inspirada na vida de, e de homenagem à grande fadista. A família de Amália, que tentou impedir que o filme chegasse a bom porto, fez total boicote a tudo o que lhe diga respeito, justamente por defender que a obra falta ao respeito à vida e à memória de Amália Rodrigues.
Vale talvez a pena, recordar algumas obras da carreira cinematográfica da artista. Entrou de forma heróica na 7ª Arte com o filme Capas Negras, de Armando de Miranda, 1947. O Fado é o protagonista maior, "secundado" por Amália, claro, e o acompanhante António Vilar, o grande galã da época do luso cinema. O resultado foi o primeiro grande êxito de bilheteira até então de um filme português. Também digno de nota e do mesmo ano, realce para Fado, História d'Uma Cantadeira, de Perdigão Queiroga, porventura bem mais conhecido do que o primeiro graças à televisão e ao mercado videográfico. A fadista sucumbe aos luxos provenientes do dinheiro das "avenidas" que o talento lhe proporciona, deixando para trás o amor com o guitarrista (Virgílio Teixeira), a mãe e a vida que conhecera no bairro popular. Depois, claro, vem a redenção e tudo volta ao seu lugar, muito pela mão do Fado.
Em Vendaval Maravilhoso, de Leitão de Barros, 1949, interpreta a actriz Eugénia Infante da Câmara, em pleno romance com o poeta brasileiro Augusto de Castro Alves. Como pano de fundo, a libertação dos escravos no Brasil. No ano de 1955 Ewan Lloyd filma o documentário April in Portugal e Amália, cabeça de cartaz e espécie de monitora de turismo, interpreta "Canção do Mar".
Merece também realce, o filme Sangue Toureiro, de Augusto Fraga, 1958. O romance é desta vez entre Amália (Maria da Graça) e Diamantino Viseu (Eduardo Vinhais), toureiro a sério e no filme, naquela que foi a primeira produção portuguesa de uma longa-metragem colorida. Uma última referência para Jorge Brum do Canto que a dirigiu em Fado Corrido, 1964, onde a fadista Maria do Amparo é resistente aos amores de D. Luis, interpretado pelo realizador.Eis portanto uma espécie de Top 5 nacional acompanhado por um documentário britânico, entre muitas participações em longas e curtas, ficções e documentários. Mas o que sempre foi significativo... bem, foi a voz ou o nome da voz. Veremos o que diz o público do filme de Carlos Coelho da Silva. Inteligentemente, a dita Banda Sonora foi editada em simultâneo...