quinta-feira, 29 de maio de 2008

Out of Sydney

Com a morte de Sydney Pollack o cinema americano perdeu o "último dos românticos de Hollywood", como vários orgãos de comunicação social se lhe referiram. Mas estará o cinema americano mais pobre?
Será o realizador tão incontornável assim? A verdade é que Pollack foi porventura mais importante como produtor do que como realizador. A sua actividade de produtor deu resultados como a adaptação da obra de Jane Austen Sense and Sensibility, onde uma grande senhora chamada Emma Thompson permite que uma actriz encontre o trampolim para o estrelato: Kate Winslet. Outro filme, Cold Mountain, foi aclamado e premiado devido não somente à bela tragédia de Nicole Kidman e Jude Law, mas sobretudo devido ao pedaço de narrativa melodramática tão cara à cultura americana. Para não falar do musical The Fabulous Baker Boys, do melodrama The Talented Mr. Ripley, da dureza fascinante de Breaking and Entering e do aclamado Michael Clayton. Tudo filmes que atravessam as duas últimas décadas cinematográficas e para cuja História contribuiram.
A realização de Pollack é bem menos categórica. Nos reestruturantes anos '70 o cineasta prometeu estar ligado à cultura americana revisitada, com They Shoot Horses, Don't They? (1969), com a Depressão como pano de fundo; Jeremiah Johnson (1972), com o incontornável western e suas múltiplas aplicações; Three Days of the Condor (1975), e a sua inspiração no policial negro; ou ainda The Yakuza (1975), onde a americanização colide com a cultura japonesa e as suas tradições.
O seu primeiro grande sucesso é a comédia Tootsie (1982), graças à magistral interpretação de Dustin Hoffman e o seu travesti que fascinava a ingénua Jessica Lange. Voltou à comédia com Sabrina (1995), pobre remake em que Julia Ormond e Harrison Ford davam vida às personagens dos gigantes Audrey Hepburn e Humphrey Bogart, no clássico homónimo do genial Billy Wilder. O filme The Firm (1993), vive do "menino bonito" e honesto advogado Tom Cruise, da mesma forma que Havana (1990), vive do galã Robert Redford no estertor da Cuba de Fulgencio Batista. Quanto ao seu último filme, The Interpreter (2005), a problemática dos sanguinários ditadores africanos é o mote, onde a vítima e agora intérprete na Assembleia Geral das Nações Unidas Nicole Kidman, promete e elabora a sua vingança. O resultado é um cativante thriller filmado entre Nova Iorque e a ficcionada República de Matobo, com claras alusões ao problema do Zimbabwe de Mugabe. Mas, pergunto eu, o que seria de Nicole Kidman sem ser secundada por um excelente Sean Penn? Kidman, actriz cujo valor não está em causa, é a cara bonita que está no prato da balança contrário ao desequilibrio emocional do polícia (Penn). Mas este, é o prato que se mantém em baixo...
Falta apontar o incontornável Out of Africa (1985), o grande sucesso de Pollack, largamente aclamado e premiado, baseado no livro de Karen Blixen. Não há um momento em que se diga que o filme é muito bom. É antes, isso sim, um filme bonito. Ou se quisermos, um filme de grande beleza. E onde está Pollack nesta obra? A interpretação é da grande Meryl Streep, longe das suas melhores composições, secundada por um Robert Redford do mesmo timbre. Salva-se o carismático Klaus Maria Brandauer, que compõe a melhor representação da fita.
A beleza do filme (que é a melhor forma de o elogiar) provém de que factor? A bela história de amor não faria o mesmo sentido, não teria o mesmo impacto, sem as magistrais imagens, planos colossais de uma África com suas belezas naturais. A planificação é de Pollack, correcto. As imagens, essas, são do excelente trabalho de fotografia de David Watkin. E neste particular, já falava o teórico e realizador Sergei Eisenstein de um cinema "de belas imagens que nada acrescentam", a propósito de algumas concepções de companheiros seus. A acompanhar a fotografia podemos "contemplar" o inegável e superior trabalho musical de John Barry, um compositor habituée em Hollywood, este sim de obra incontornável, desde muitas composições para filmes da série 007, até Dances With Wolves (1990), que por sinal é muito mais filme que Out of Africa...

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