segunda-feira, 12 de maio de 2008

Herzog vs. Kinski

Werner Herzog é um realizador que descobri há muito pouco tempo. Já em tempos tinha visto o filme Fitzcarraldo em emissão televisiva, e sempre tive vontade de conhecer melhor esta figura, um dos expoentes do Cinema Novo Alemão.

Aclamado pela crítica, sobretudo nos circuitos de cinema independente, popular entre os espectadores, construiu durante – sobretudo – os anos 70’ do século XX a sua reputação, a qual não goza de muito boa fama. Trata-se de um homem que faz filmes de temas suficientemente controversos, e que deixam mensagens a condizer. Um realizador que improvisa guiões à medida que cada uma das rodagens avança, envolta em névoas de mistério, muitas vezes em lugares inóspitos que levam ao risco de vida dos intervenientes.

Nascido em 1942, com fortes e marcantes memórias da 2ª Guerra Mundial, recusa aos doze anos em Munique, uma participação na sua escola em que tinha de cantar perante a turma, facto pelo qual esteve à beira da expulsão. Experiência traumática, só aos dezoito anos haveria de voltar a ouvir música. Anos antes, com a idade de catorze, uma enciclopédia foi o manual de iniciação à cinematografia e rouba da Escola de Cinema de Munique uma câmara 35 mm.

Mas tal rumo já Herzog decidira dar à sua vida. De volta à sua Munique aos doze anos, no final de um processo de sofrimento causado pela guerra e anos que se lhe seguiram, a sua família partilha um apartamento com Klaus Kinski. Diz Herzog: “Naquele momento eu soube que seria realizador e dirigiria Kinski”. A sua obra, os seus mais marcantes filmes, estão intrinsecamente ligados a esta super hiper carismática personagem.

Em Aguirre, o Aventureiro, Klaus Kinski é um aristocrata perdido com o seu séquito em plena floresta peruana, na procura do El Dorado. Os encontros com indígenas e as lutas de poder no interior do grupo fazem de Aguirre o único sobrevivente, numa jangada destruída na margem, invadida por dezenas de pequenos macacos. É neste momento, ao agarrar um destes seres, observando-o, que percebe que mais não é do que um deles, de uma pequenez sem expressão. Cobra Verde, um perigoso bandido do sertão, é enviado para negociar escravos com o rei do Daomé, acabando a comandar um exército de mulheres que destituem o monarca. Nas margens do Daomé, Cobra Verde desespera bizarramente por voltar ao seu país, observado por um deficiente motor de difícil compreensão. Baseado numa história verídica, o barco fluvial de Fitzcarraldo é transportado pelo interior da floresta, uma aventura de contornos impensáveis para atingir um rico território de borracha no interior do Peru. Estes são os três mais na minha descoberta, uma boa surpresa vinda da cinematografia de uma época alemã por vezes esquecida, apenas lembrada por Rainer Fassbinder e pouco mais…

Klaus Kinski é para Werner Herzog o mesmo que John Wayne é para John Ford, ou Toshiro Mifune para Akira Kurosawa. A sua forte, vincada e inebriante expressão e olhar foram a cara de um lado wagneriano do cinema de Herzog, que muito tem a ver com o melancólico e tenebroso Romantismo e mesmo com o Expressionismo, ou não fosse este uma “derivação” germânico-taciturna do primeiro. Filmes como Aguirre, o Aventureiro (1970), Woyzeck, O Soldado Atraiçoado (1978), Nosferatu, o Vampiro (1978), Fitzcarraldo (1982) e Cobra Verde (1987) são disso exemplo maior. Outros títulos a ter em conta: Até os Anões Começaram Por Baixo (1970), A Canção de Bruno S. (1970), Fata Morgana (1971), O Enigma de Kaspar Hauser (1974).

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